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sábado, abril 30, 2005

Resgate

Hoje acordei em prece, agradecendo o mistério da tua indefectível persistência. E sorrio sorvendo o gosto da vida, sentindo apenas o gosto do presente. Esquecida, já, de todas as asfixias, bailando ao sabor da leve infinitude dos dias que me devolves pela mão da fina afinidade dos corpos. E já não penso no que ficou para trás, afogado algures, na espuma dos dias que passaram por nós - incapazes de nos sobreviver.

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sexta-feira, abril 29, 2005

«Beleza Roubada»

Melhor assim!
Tudo pode mudar
Melhor assim!
Tudo está por um fio
fino e invisível.

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quarta-feira, abril 27, 2005

Num Cofre, a Oriente

... E mais a Oriente se abre o cofre a um sentido tão claro e simples que quase se confunde com o mais secreto dos achados:

« É porque estamos no Paraíso
que tudo neste mundo
nos magoa.
Fora do Paraíso, nada incomoda,
porque nada conta.
»
(Ono no Komachi - Japão)

Mais uma vez, é aqui que está.

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terça-feira, abril 26, 2005

«Tenho Fome!»

Sim, é verdade: pequenas frases fatais que se escapam de nós como ecos dos instintos primeiros, primários sentires que falam antes que pensar se faça urgente, confissões inocentes das coisas que nos animam os sentidos. Sim, tens razão: nunca eu disse «Tenho Fome!...» sem que me trouxesses comida. E sim, eu sei: de certa forma, não estariamos hoje aqui se não te tivesse dito exactamente a mesma coisa, há quatro anos atrás. E é só por isso que me corre agora esta coisa da irremediável fatalidade contida nas frases orgânicas. Porque eu já devia saber o quão perfeita és a responder à precisão dos meus apelos. Quando eles são assim: como agora (outra vez) te soam - inconscientes (ainda) da fundura da falta que sentem, ingénuos (quem diria?!) da necessidade que dentro se lhes anuncia.

(...)

«Amo-te quase assim», tu dizes, «Quando depois do desalvoro, sentes fome e é a mim que vens. A pedir comida. Como quem sabe sempre onde ir ter. Como quem sabe sempre quem mata as fomes que sobram. Como quem sabe e não se perde do lugar onde ficou a mão capaz de alimentar. Depois do mundo. Apesar dos outros. Quando chega ao fim o teu tempo lá fora. Depois do relógio se partir. Terminado o intervalo do teu desassossego. Ao largo. Na rua. Longe de casa. Sem mim.»

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segunda-feira, abril 25, 2005

Algures Naquele Quarteirão

«Adormeci / com a sensação / que tinhamos mudado o mundo / na madrugada /a multidão / gritava os sonhos mais profundos»

Brumas do Futuro, Madredeus

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Muitas e Mais Uma

«Manhã de Abril / e um gesto puro / coincidiu com a multidão / que tudo esperava e descobriu / que a razão de um povo inteiro / leva tempo a construir.»

Brumas do Futuro, Madredeus

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Cama Virgem

«Sim, foi assim que a minha mão / surgiu de entre o silêncio obscuro / e com cuidado, / guardou lugar / à flor da primavera e a tudo

Brumas do Futuro, Madredeus

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domingo, abril 24, 2005

As Cartas

Há um instante - um brevíssimo instante - que pode ser surpreendido ao raiar da aurora, em que o mundo é uma cúpula tão fluida como o oceano. Pode observar-se a olho nú se houver silêncio. Pode ver-se dos topos nús da terra, se as mãos pararem um pouco e o queixo se rachar ao espanto, vago e sem temor. É o instante em que a vida é sem redoma e uma voz Azul Cobalto nos guia em direcção às pequenas descobertas que fazem o dia amanhecer diferente: lá, onde as cartas se desatam e, por entre o primeiro café quente da manhã, alguém nos confia a mansa suspeita de que, afinal, o Coração Gasta-se.

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Fim-de-Semana Grande




Quatro dias para, um a um, me refazeres cada um dos quatro anos que chegaram antes de ti. «Um dia por cada ano!», tu dizes então. Com a perfeição de quem ressuscita loiras princesas ao trigo mouro. Com magos dedos imperiais e um desalinho de cabelos asa de corvo ao centro da minha cama.
(...)

Esta manhã voltei a montar. Voltei ao prado. Como agora volto a ti. Depois de ter saido de mansinho, enquanto dormias. Para não te estremunhar antes da hora.

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A Tabuleta

Hoje, pela manhã, desci a alameda até uma quinta próxima que, na tabuleta da entrada, tem escrita uma prodigiosa frase de Caeiro:

«A criança que pensa em fadas
e acredita nas fadas,
age como um deus doente
»

Gosto de passar por lá e ser saudada de frente pelos dizeres do "pastor" das cabras e ovelhas... Gosto de pensar que, de certa forma, colheu no mesmo pasto orvalhado o segredo de ir apascentando pessoas... por entre versos vivos sobranceiros ao tempo... E nesse meu vaguear matinal, dou por mim a perguntar por "m", a perguntar-me por onde andará. As últimas linhas que lhe li davam conta que trazia «um sol a arder cá dentro num murmúrio pulsante». Talvez tenha dado ouvidos ao sussurro. Gosto de pensar que sim. Agradam-me os que perseguem o invísivel.

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sábado, abril 23, 2005

(Des)Encantamentos

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sexta-feira, abril 22, 2005

23 de Abril ou "Os Dois Começos"

Às vezes as datas parecem-se com pequenas coincidências irónicas, incautos contratempos em desaviso... quase perversos na ocorrência... quase culpados, pela banal casualidade que os fez assim: ... levemente constrangedores, fortuitamente inoportunos.

(...)

Dois começos com calendário fixo, então!... Que é para eu não escapar à lição dos dias: essa que vem e mostra que o fósforo ardido só ardeu para acender uma chama outra em seu lugar. Antes de se extinguir. Como quem escurece por ser já hora de tudo o que amanhece.

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quinta-feira, abril 21, 2005

Rainha

Vens a mim com a força de um vento soberano. Vens com as tuas ganas de fome crua. Trazes a mim a tempera bruta das matrizes audazes. E eu sei que não vale a pena supor que te possa estar mentindo, se disser que continuo rendida ao teu estremecimento maior. É ainda teu o pulso mais forte. É teu, sim, o poder de seres maior que todas as coisas regressadas para te ensombrar. Eu?!... Eu fico-me com esta tresloucada felicidade de criança que me assalta a cada vez que vens e me reclamas. Firme e inabalável. Hasteando desmesuras e trovoadas. Vergando o mundo a cada passo avançado adiante. Como hoje, como agora. Como daqui a três quartos de hora. Quando o avião te aterrar em mim.

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terça-feira, abril 19, 2005

«Longe de Manaus»... Eu.

Longe de Manaus, sim... Estou! Eu. Há demasiado tempo. Mais, muito mais, do que é humanamente sofrível.

Ainda não folheei o livro.

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sábado, abril 16, 2005

Memórias do Surfista Prateado

Não sei porquê, nessas lagunas vejo o seu olhar
Não sei porquê,nessas lacunas vejo o seu olhar
Não sei porquê, nessas escunas vejo o seu olhar
Não sei porquê, nessas esquinas vejo o seu olhar


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sexta-feira, abril 15, 2005

Hoje

Isso eu não sei. Já não tenho que saber. Sou eu aqui e tu algures. Neste prazer pequeno de enrolar no sofá e só.

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Patamares

Pois, sim!... Que faça frio, então. Que doa o frio. Que fiques de frente para o Bom Jesus de Braga. Que cumpras cada degrau em redenção. Agrada-me pensar que, apesar de tudo, no último segundo, há-de haver um certo céu de chumbo que te poupe a penitência. Quando for o tempo, tu descobrirás o quão inutéis se fazem as ladínhas de quem busca expiar com penas capitais o que já foi pecado mortal . Por mim, continuo aqui estendida debaixo da língua soalheira que com o dia me entrou em casa. Sem remorso. Sem grande ânsia. Somente uma distraída saudade, agora que falas nisso... agora que afloras a questão. Porque há bálsamos, Querida!... Há, sim. Bálsamos verdadeiros, verdadeiros bálsamos. Como aqui em casa, agora. Depois que tu saiste e levaste embora todas as manhas que encobriam o quente e fizeram de Lisboa uma cidade sem sol meses a fio. Bem vês, já não é o caso!... Não é o caso.

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quinta-feira, abril 14, 2005

Homeless

Nada posso contra o que te arrefece os pés, Querida!... Posso escutar-te as queixas e ouvir-te a irritação com que esgrimes impaciências muitas. Mas nada mais!... É-me igual que clames contra o desconforto. Todos somados, os interditos resultaram num espaço exíguo. Tornou-se pequeno o mundo, vês?!... Vês como minguou, como ficou apertado e reduzido?!... Foi!... Ficou.

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segunda-feira, abril 11, 2005

«Só Deixo Minha Alma Na Mão De Quem Pode»


só deixo meu coração
na mão de quem pode
fazer da minha alma
suporte
pr’uma vida
insinuante
insinuante
anti-tudo que não
possa ser
bossa-nova hardcore
bossa-nova nota dez
quero dizer
eu tô pra tudo nesse mundo
então só vou
deixar meu coração
a alma do meu corpo
na mão de quem
pode
na mão de quem
pode
e absorve
todo céu
qualquer inferno
inspiração
de mutação
da vagabunda intenção
de se jogar
na dança absoluta
da matança
do que é tédio
conformismo
aceitação
do fico aqui
vou te levando
nessa dança
submundo pode tudo
do amor
porque não quero teu ciúme que é o cúmulo
ciúme é acúmulo de dúvida, incerteza
de si mesmo
projetado
assim jogado
como lama anti-erótica
na cara do desejo mais
intenso de ficar com a pessoa
e eu não tô à toa
eu sou muito boa
eu sou muito boa pra vida
eu sou a vida
oferecida
como dança e não
quero te dar gelo
jealous guy
vê se aprende
se desprende
vem pra mim
que sou esfinge do amor
te sussurrando
decifra-me
só deixo minha alma
só deixo o coração
só deixo minha alma
na mão de quem pode
só deixo minha alma
só deixo meu coração
na mão de quem ama solto
eu vou dizendo
que só deixo minha alma
só deixo meu coracão
na mão de quem pode
fazer dele erótico suporte
pra tudo que é ótimo factor vital



(...)

Esta noite sentei-me no Teatro Maria Clara Machado, lá na Padre Leonel França. Abri mais os olhos e respirei sal ao ar da Gávea. E agora deixo-me aqui, a pensar nas maravilhas da tecnologia, quase grata pelas impossiveis magias que fazem acontecer: assim.

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sábado, abril 09, 2005

«Que Ela Regresse»...

Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela
Não pode ser, diz-lhe numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso
Mais sofrer. Chega de saudade a realidade
É que sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai



[«Chega de Saudade» - Tom Jobim e Vinicius de Moraes]



... Ele há incontornáveis, é verdade que sim. E há momentos de clarividência também: fugazes relances no tempo, em que se sabe de uma só vez tudo o que há para saber lá adiante: bem lá na frente... muito antes (muito, muito antes!) de se lá chegar.

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Última Frase

Abrir cedo o dia. O sol, as minhas revistas e alguns anacronismos sem prazo de validade. Entrar de surpresa pelo trabalho alheio. Inquietantes projecções. Gosto desta espécie de estética da sugestão. Gosto desta mulher. Foi portuguesa. Em 1923, em plena República, o Governo Civil de Lisboa apreendeu-lhe as páginas e chamou-lhe «imoral». Interessa-me esta mulher.



Minha alma ergueu-se para além de ti...
Tive a ânsia de mais alto
—abri as asas, parti!



Judith Teixeira (1880-1959)

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quinta-feira, abril 07, 2005

«Lo Demas Esta De Mas»

Amo essa tua forma inquebrável, essa coisa de nunca te interromperes da vida mesmo que, às vezes, eu me distraia e baralhe um pouco. Amo essa ausência de estremecimentos desnecessários que há em ti. Amo!

Pienso en ti y lo demas esta de mas
Entonces vuelvo a comenzar
Cuando pienso en ti te juro que gano la batalla*

E deste outro lado do mundo, lembro-me de ter falado há dias desse mágico poder das inefáveis presenças que assiste a alguns. Devia ter dito o teu nome. Devia!... Devia ter-te feito justiça. Mas não importa. Aos poucos, a verdade faz-se robusta e deixa de precisar de nós. Abro a tua janela preferida, como se fosse tua a minha mão sobre o ferrolho. Como se fosse uma elegia a ti, Rainha dos Senderos Luminosos. Faço o pino no meio da sala e já me esqueci: voltou a não haver nem bem nem mal. Só urgências. Só coisas importantes. Só este sentir feliz que equilibras na palma da mão e onde te encontro sempre que fecho os dedos. Tu: o lugar de todas coisas apetecidas e precisas. Tu.

Pienso en ti y lo demas esta de mas
Entonces vuelvo a respirar
Cuando pienso en ti mi cuerpo recupera el alma*

(...)


Sei que tens razão: podes, na verdade, dormir tranquila onde quer que estejas... «lo demas esta de mas».

[* Astrid Pazmino]

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quarta-feira, abril 06, 2005

«Folhas de Rosa» entre Fumaças

Hoje cedo, senti falta de vaguear. Como fazia às vezes, antes de ter parado. Antes de ter desaparecido. Antes da água. Antes do oceâno. Antes desta preguiça vaga que depois me alcançou e nunca tive grande paciência para justificar. E então dei comigo ausente - por muito tempo - por entre lugares que me costumavam ser familiares. E quando regressei aqui tropecei num começo de Florbela Espanca que me tem perseguido por todo o dia... Como se fosse belo. Como se fosse feito de carne. Como o pensamento.


Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol
Eu vou falar com elas em segredo ...
E falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...


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Das «Fadas do País da Bruma»

... Sim, esse «despedir para um reencontro» um pouco mais adiante!... Esse demorado aprendizado de um viver já mais à frente. Depois do vento sobre as pedras verdes e dos refúgios buscados ao escuro em certas tardes gélidas.

Bela, sim, a persistência no tempo!

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terça-feira, abril 05, 2005

Memorando

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Dupla Mente

Olho-te in loco e tento perceber que foi que restou de ti. Depois dos néons garridos que te roubaram a graça. Adiante da mescla acinzentada que primeiro te contaminou o cérebro e depois o coração. Diante de mim se desenha a mais perfeita metáfora de ti. Tu: somando perdas sucessivas, totalmente incapaz de fazer o balanço de perdas e danos. Tu: persistindo no racicínio falacioso das matemáticas básicas que sempre dividem em igual proporção a lógica guardada ao calculo das probabilidades. Tu: acreditando ter bem guardado o secreto trunfo que te há-de virar a sorte. Tu: tão perto e, no entanto, tão longe de mim, sem te dares conta que algo de irremediável se perdeu, apesar do tilintar que ainda sentes entre os dedos, quando enfias as mãos na algibeira.

(...)

Nenhuma surpresa afinal. Tudo "duplamente" previsível. Como sempre, como antes. E sabes?!... eu sabia que virias hoje. Porque pertences à raça dos que chegam de véspera para iludir o facto de não mais lhes pertencerem os dias.

Fiquemos então assim: a fazer de conta que a véspera substitui o dia e que o jogo é igual à vida.


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domingo, abril 03, 2005

A Condutora

Junto a ti a vida é uma deriva estúpida e cansativa em que não me reconheço. Tens a fatal hesitação dos que vivem em sucessivo adiamento e o brilho fraco dos quereres descomprometidos. Cansa-me essa tua forma de viver em mentirosa espera. Tenho coisas para fazer e o meu drama é inverso ao teu.

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sexta-feira, abril 01, 2005

Parabéns, Meu Amor

Ó abelha rainha faz de mim
Um instrumento do seu prazer
Sim, e de tua glória
Pois se é noite de completa escuridão
Provo do favo de teu mel
Cavo a direita claridade do céu
E agarro o sol com a mão
É meio-dia, é meia-noite,é toda hora
Lambe olhos, torce cabelos... feiticeira vamos embora!
É meio-dia, é meia-noite
Faz zumzum na testa, na janela, na fresta da telha
Pela escada, pela porta, pela estrada toda a fora
Anima de vida o seio da floresta, o amor empresta
A praia deserta zumbe na orelha, concha do mar
Ó abelha, boca de mel, carmin, carnuda, vermelha
Ó abelha rainha faz de mim um instrumento do seu prazer


De Caetano Veloso para a voz da mana Bethânia. De mim para ti, Rainha Soberana... Real Alteza da colmeia ao cimo da colina. Por dom e merecimento. Por fado e nascimento. Por fundo desejo de te dar um dia feliz. Parabéns, Senhora da Vida. Grata, eu, a Ti, que me trouxeste um novo Abril.

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