-->

terça-feira, outubro 19, 2004

«Cry Me a River»



É imponente o uivar do vento. Há muito tempo que não o ouvia rugir tão bravo. Tinha saudades, pelo que percebo...! E fico assim: a escutar-lhe o rodopio, a ouvi-lo entrar pela chaminé da cozinha, pela lareira, pelas frestas das janelas desamparadas sobre a cidade... Fico a escutá-lo dançar as copas das árvores do jardim, silvar por entre as telhas e jelousias, urrar remoínhos em torno da casa... Baixo o volume da música que sai da aparelhagem para não lhe incomodar a cantata mobile e fico a desfrutá-lo como se fosse humano, como se o seu roçar se estendesse comigo no tapete macio. Pouso o livro. Devagar. Muito devagar!... Para que nada lhe perturbe a ânsia. Para que nada lhe entorpeça a fúria. Vêm-me à cabeça as histórias que me contaram os negros da Bahia, antes do Pelourinho, por cima dos caixotes de madeira do cais: é Iansã cavalgando a sua rebeldia, nua pelos ares!... Deixo-me ficar a olhar o turbilhão dos seus cabelos contra o branco do tecto. Linda Princesa dos Sete Ventos Nús!!... Pouso o livro, baixo a aparelhagem, fecho os olhos. Chove. Venta. Chove forte, agora. Venta ainda mais bravo, neste momento. Iansã cavalga liberdades pelo tecto da casa, enquanto o vento urra a canção. Baixinho. Bem baixinho!... por debaixo da voz da ventania que estremece o telhado e me faz jurar que perdi a terra firme. E me faz jurar que navego, agora!... que a casa se transformou num navio solto em alto mar. Enquanto o vento baila o telhado e me faz dançar os olhos fechados. Aqui. Agora. Neste exacto instante.

(...)

Now you say you're lonely
You cry the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you

Now you say you're sorry
For being so untrue
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you

You drove me, nearly drove me, out of my head
While you never shed a tear
Remember, I remember, all that you said?
You told me love was too plebeian
Told me you were through with me and

Now you say you love me
Well, just to prove that you do
Come on and cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
I cried a river over you
I cried a river...over you...*




*[«Cry Me a River» - a voz é a de Diana Krall, mas podia não ser!... Podia ser a Joplin. Eu gosto! Muito.]

Etiquetas:

Blogs Que Eu Vi Divulgue o seu blog! Listed on Blogwise


Who Links Here

trueFresco.Org - destination Fresco Painting Society


referer referrer referers referrers http_referer
Content copyright protected by Copyscape website plagiarism search