Telefone Vermelho
Há duas noites atrás ela ligou. Madrugada alta, quase cinco da manhã. E eu sei que é ela. Hoje em dia ninguém me telefona fora de horas. Aliás, raramente me telefonam porque eu me dediquei a um persistente e minucioso trabalho de infalível efeito dissuasor. Há muito que venho disseminando obstinadamente este capricho de nunca atender o telefone. Não demorou muito a que se tornasse convenientemente público. As pessoas ironizavam e eu deixava-as ir troçando. Continuo, aliás, a alimentar perversamente o lugar comum da "loira distraída" porque me convém de sobremaneira: serve na perfeição a este meu desejo de cortar ao mundo as tiranias e intromissões. Previne-me das invasões e poupa-me à estranheza dos ofendidos. Há duas noites atrás, porém, o telefone tocou fora de horas. E eu atendi: primeiro, porque ninguém tem culpa da diferença de fuso horário; depois, porque sei que só pode ser ela. E ela eu atendo, sim. Sempre. Porque a amo, é simples.
Etiquetas: Senhora Sul BLG
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